Há ideias perigosas que, quando ditas em voz baixa, já são preocupantes. Mas quando ditas por um governante, ao microfone, tornam-se inaceitáveis.
O Ministro da Educação afirmou que as residências universitárias se degradam mais quando acolhem apenas estudantes de meios mais desfavorecidos. E foi mais longe: disse que o mesmo acontece nos hospitais e nas escolas públicas. Que, aparentemente, a presença dos pobres faz mal ao Estado Social.
Estas declarações não são só infelizes. São bem reveladoras.
São reveladoras de uma visão elitista sobre o que é o serviço público. De um preconceito antigo que vê nos mais frágeis os culpados pelas dificuldades das instituições. Que confunde desigualdade com falta de mérito e pobreza com desleixo.
A função do Estado não é separar. É proteger. Não é equilibrar os espaços públicos com gente “mais apresentável”, como quem decora uma montra. É garantir que quem tem menos condições ou menos recursos tem acesso a instrumentos que lhes permitam melhorar as suas condições.
O que degrada as residências universitárias não são os bolseiros. É a falta de investimento. O que desgasta os hospitais não são os doentes pobres. É a ausência de profissionais, de recursos, de respeito. E o que fragiliza a escola pública não são os alunos carenciados — é o abandono sucessivo por parte de quem devia defendê-la.
Não se combate a desigualdade reforçando a ideia de que os pobres “estragam” os serviços públicos. Pelo contrário: é quando se começa a pensar assim que se justifica que o melhor fique sempre reservado para os mesmos.
O Estado não se deve proteger de alguns. Deve estar ao lado de todos.
(Crónica escrita para Rádio)